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Citrus Fruits

ENTREVISTA A

TATIANA MARQUES

NUTRICIONISTA DO AGRUPAMENTO

ASPEB-Que critérios de alimentação são considerados por uma nutricionista para uma escola básica?

TM - Os critérios baseiam-se principalmente num documento que está lançado a nível nacional desde 2018, que é a orientação

para as ementas e refeitórios escolares. Foi lançado pela Direção-Geral da Educação e é como se fosse o nosso guia; é onde

estão todas as indicações que nos guiam para termos a certeza que estamos a cumprir todos os  critérios e que estamos a ir ao

encontro das necessidades das crianças. É a partir desse guia que fazemos as ementas, ou que estão predefinidos os critérios

para fazer ementas, seja a quantidade de carne, de peixe ou de ovo que é disponibilizada, o número de vegetais que é

disponibilizado no prato, a quantidade de vezes que devem aparecer leguminosas, seja no prato, seja na sopa. Tudo isso está

regulamentado e é nos dado através de um guia. Esses são os principais critérios. 

ASPEB - Como é que se aplicam esses critérios, ou seja, como é elaborada a ementa e que fatores são tidos em conta aqui nas escolas do agrupamento? 

TM - A refeição é completa, ou seja, tem de ter sempre o prato da sopa e o prato principal, que pode conter carne, peixe ou ovo como proteína principal; e é aqui que se gera muita confusão. Muitos dos pais ainda não estão habituados ao ovo como proteína. E há mesmo uma recomendação para que a refeição ovo-lacto-vegetariana seja introduzida no mínimo quinzenalmente, ou seja, duas vezes por mês. Não me chocaria se aparecesse uma vez por semana, mas, pronto, chegámos a um consenso e duas vezes por mês já é um início. Depois é composto também pelo pão, sempre, e pela sobremesa, que pode ser fruta (crua, cozida, assada) ou sobremesa doce. Tudo isso está regulamentado com o número de vezes que aparecerá por mês na ementa. 

ASPEB - E a sopa é obrigatória?

TM - A sopa é obrigatória, sim. 

ASPEB - E há miúdos que não comem? Ou todos comem sopa? 

TM - À partida a sopa é servida a todos, sim. Claro que sabemos que há aqueles que tentam fugir e passar despercebidos. Mas sim, a sopa é servida a todos e o ideal é que comam pelo menos um bocadinho. Claro que não existe um regime militarizado que os obrigue a comer a sopa. Mas é feito um incentivo para que seja comida a sopa. 

ASPEB - Tendo em conta os fatores Criança, Escola, Refeitório, a quantidade é tida em conta? E se a quantidade é calculada, o que é que se passa, sobretudo no Centro Escolar, para haver tanto desperdício por parte dos miúdos? 

TM - A quantidade que é servida é tida em conta. São feitos cálculos até mesmo para tirar a matéria-prima do descongelamento ou para preparar a refeição. Tudo isso está regulamentado. A quantidade é bem servida, não quer dizer que seja sempre, mas é bem servida de encontro com a capitação. Muitas vezes verificamos que os alunos não comem a quantidade que deveriam comer ou porque não gostam, ou porque não é igual ao de casa, porque nunca é.

E pronto, eu posso dizer que almoço no Centro Escolar uma vez por semana, e uma vez por semana na escola básica e secundária, e eu gosto da comida. Mas quando eu era criança também não gostava, portanto, acho que é um fator igual. 

ASPEB - Porque é que acha que isso acontece? Há alguma particularidade para que a maioria dos miúdos se queixe da comida? É o mal geral das escolas ou é pela ausência de soluções de qualidade? 

TM - Eu acho que é um bocadinho o rótulo de que a comida das escolas não presta. Há aquele rótulo de que as batatas da escola nunca estão cozidas. Nunca me calhou uma batata crua, mas... Acho que é o mal geral das escolas, não acho que não haja qualidade. Há realmente fatores que podem ser melhorados, nomeadamente o fracionamento da carne e do peixe, que normalmente são apresentados fracionados, não são apresentados à posta. Claro que isso depois vem com outros argumentos, que os miúdos, assim, comem melhor. De facto, sim, só que o aspeto acaba por não ser o melhor às vezes. Não quer dizer que isto seja uma regra e que seja sempre assim. 

ASPEB - E os miúdos também comem com os olhos, não é? 

TM - E os miúdos também comem com os olhos. O empratamento é importante também nas crianças. E depois eu acho que é um bocadinho o fator de estarem todos juntos. O refeitório do Centro Escolar leva ali imensas crianças. É mais um momento de brincadeira do que um momento de comer. Eu acredito que também seja um bocadinho por aí, mas... Ainda não é uma ciência exata.

ASPEB - Neste caso, quem é a empresa responsável pela confeção? Tem conhecimento?

TM - Sim, temos a empresa ICA. É a empresa que temos responsável, está contratada já desde o ano passado, pelo menos que eu tenha conhecimento, e este ano continua a mesma.

ASPEB - A qualidade com que as refeições chegam às escolas é acompanhada pela nutricionista? Dou-lhe o exemplo das escolas do Pó, onde se queixam de que por vezes a comida chega fria, por ser entregue muito cedo, tipo 10 horas da manhã. 

TM - Sim, existe esse acompanhamento. Efetivamente, eu queria aumentar esse acompanhamento a partir de agora. E sim, ou seja, aquilo que eu verifiquei quando vi os registos de temperaturas, é que algumas temperaturas estariam abaixo do que era suposto. No entanto, as condições em que são transportadas, em que são embaladas até chegar lá, que eu tenha visto, estão todas em conformidade. Portanto, eu também queria tentar perceber se será um erro de termómetros, se será depois, desde que chega à escola, se é mantido nas condições em que sai daqui ou não. E, portanto, ainda não tenho uma resposta. 

ASPEB - Sabemos que têm sido realizadas ações de sensibilização e formação na escola. Pode falar-nos um bocadinho dessas ações? 

TM - Daquilo que tenho feito até agora, para além de estar nos refeitórios e tentar incentivar a que seja servida uma refeição completa e que eles comam tudo, são também as atividades que são feitas, são sessões de educação alimentar, em que são abordados diversos temas que nem sempre têm a ver com a refeição na escola, mas também com lanches mais saudáveis, tentar que os miúdos aprendam a distinguir o que é um alimento mais saudável daqueles que não são tão saudáveis.

E a ideia não é que eles não comam os não saudáveis de todo, é aprender a dosear, a perceber o que é que estão a comer, tentar sensibilizá-los para os alimentos ditos maus, para os que devem ser preferidos. Também falar um bocadinho no desperdício alimentar, tentar sensibilizá-los nesse sentido. 

ASPEB - E há muito desperdício alimentar no Centro Escolar, por exemplo? 

TM - Existe algum, sim. Acho que é um bocadinho inevitável. Infelizmente. Vai muita quantidade para o lixo. E depende dos dias, depende do gosto das crianças. 

ASPEB - Qual é que vai mais para o lixo. O peixe? 

TM - O peixe. 

ASPEB - E, tendo em conta a realidade da escola, numa situação ideal, como é que encontra esta escola? Diferente de outras, a nível de preocupação com a alimentação dos miúdos?

TM - Das escolas que eu já vi, também já estive na Câmara Municipal de Torres Vedras, apesar de ser completamente diferente, porque lá tem uma gestão direta e aqui é por uma empresa contratada, eu fiquei agradavelmente surpreendida com esta escola. Até mesmo pelos esforços que se fazem, sempre que se encontra alguma coisa que não está de acordo com o que era suposto, existe um esforço para resolver a situação. E eu acho que isto é meio caminho andado. Pelo menos existir a vontade de melhorar e de chegarmos ao ideal.

ASPEB - Dos lanches que os miúdos trazem para a escola, vê mais lanches bons ou mais lanches maus?

TM - Eu sou-lhe sincera, não acompanhei ainda essa parte dos lanches. Nas ações de sensibilização, acabo por falar um bocadinho com as professoras e estas relatam que às vezes ficam assustadas com os lanches que os miúdos trazem, mas eu nunca fiz essa avaliação direta… ver o que é que eles trazem.

ASPEB - Mas dos relatos que ouviu, muitas vezes trazem coisas nocivas? Pouco apropriadas para um lanche saudável para uma criança?

TM - Sim, muitas vezes, o que é mais relatado são os bolicaos, as napolitanas com chocolate, as bolachinhas com chocolate. Coisas com chocolate são os preferidos das crianças.

ASPEB - Como é que os pais podem fazer o trabalho de casa para ajudar os miúdos a praticar uma alimentação mais saudável e sensibilizá-los para a importância da refeição na escola?

TM - Eu acho que é mesmo dar o exemplo, acho que é esse o primeiro passo. Se os pais forem um bom exemplo e comerem alimentos saudáveis, se tiverem o hábito de consumir a refeição completa, com os vegetais, com a sopa, com a fruta, os miúdos, ao verem o exemplo, acabam por copiar. Nós funcionamos muito assim. E acho que este é o primeiro passo. E depois, se os pais enviarem um lanche mais saudável, também isso irá educar o gosto da criança para alimentos mais saudáveis. E levar a que um dia, quando tiver mais autonomia, (numa escola básica e secundária, por exemplo), prefira os alimentos a que está habituado e que, à partida, serão os alimentos mais saudáveis.  Deve ser este o trabalho de casa dos pais.

ASPEB - Uma mensagem de uma nutricionista para os pais...

Os pais devem ser o exemplo na alimentação e por isso cabe aos pais mudarem os seus hábitos alimentares em prol dos seus filhos. Os filhos serão a cópia dos pais.

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QUESTIONÁRIO

ELABORÁMOS UM PEQUENO INQUÉRITO A TODOS OS QUE ESTÃO LIGADOS ÀS CINCO ESCOLAS BÁSICAS DO BOMBARRAL.

TRATA-SE DE UM PEQUENO DIAGNÓSTICO SOBRE AS CONDIÇÕES DAS ESCOLAS .

UM QUESTIONÁRIO QUE PODE SER RESPONDIDO SOB ANONIMATO  

(clique no link em baixo para responder. Obrigado 

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